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OBEDIÊNCIA |
O nome da pessoa é fictício, mas a história é totalmente verídica.
Eram 5hs da manhã quando o telefone tocou. Isabel, uma mulher de meia idade, levanta-se da cama e corre pra atender a ligação. Do outro lado alguém explica: “Isabel, mantenha a calma, mas nessa madrugada o ônibus em que seu esposo viajava sofreu um grave acidente, e há muitos feridos que já foram conduzidos ao hospital mais próximo…”
Como uma tempestade abrupta que nos pega de surpresa e inunda tudo em nossa volta, acontecimentos como esse adentram em nossa vida, sem pedir licença e nos impelem para uma pausa forçada, que não gostaríamos de fazer.
Isabel e seu esposo atenderam ao chamado quando seus dois filhos eram pré-adolescentes. Em dois anos estavam todos no campo. Era uma família de modelo patriarcal. O pai, embora fosse um homem doce, representava o centro das decisões e iniciativas principais que envolviam a família. Submissão e companheirismo marcaram o relacionamento de Isabel com o seu esposo durante os 27 anos de casados.
Mas foi inevitável, a morte chegou à sua casa. Era uma viagem missionária, ele e outros irmãos em Cristo se foram para sempre. Alguns dos que sobreviveram ficaram traumatizados. Recentemente ouvimos que um deles que ainda carregava marcas dessa tragédia, já estava no campo.
Meu encontro com Isabel se deu em dois momentos: No primeiro, eu era uma palestrante falando em um retiro para trabalhadores do Reino. O seu esposo ainda estava lá. Lembro-me quando se aproximaram de mim risonhos, e ele mantinha o seu braço sobre os ombros dela. Isso foi há pouco mais de três anos. Eles estavam de férias no Brasil. Meses depois recebi a triste notícia do seu falecimento. Sem saber ao certo dos caminhos que Deus traçaria no futuro, tivemos o nosso segundo encontro em 2011, quando comecei o acompanhamento pré-campo de Isabel, que faz parte de uma das agências que assessoro na área do Cuidado. Isso mesmo, ela está voltando para o campo. Desta vez sozinha. Pela primeira vez estará sem os filhos, agora casados, e sem o seu companheiro.
Tenho refletido muito sobre os aspectos da vida desta mulher. O que faz do seu caminho uma jornada tão notável, frutífera e esperançosa, apesar da catástrofe? Ela é uma pessoa comum, tem fragilidades físicas que exige cuidado e tratamento. Tem limitações financeiras como a maioria dos trabalhadores brasileiros e tem sofrido em seu corpo as turbulências dos dias difíceis, como todos nós.
Tenho que admitir, ela fez da Pausa um momento de aprofundamento da sua fé no Senhor, e no meio dessa terrível tempestade, não se deixou submergir, mas caminhou sobre as promessas de Deus contidas em Sua Palavra. “Por isso não abram mão da confiança que vocês têm; ela será ricamente recompensada. Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que Ele prometeu.” Hb 10:36,37
Os últimos três anos foram para Isabel, de muita luta, medos e superações. Em pleno luto, Isabel resolveu ser útil mais uma vez. Inscreveu-se num curso técnico de enfermagem, iniciou um trabalho voluntário na base de sua agência, apoiou e casou os dois filhos, com árduo custo, editou e lançou o livro-biografia que seu esposo havia escrito antes de morrer. E não parou por aí. Nos meses imediatos ao acidente, cumpriu toda a agenda de compromissos e pregações que seu esposo tinha com as igrejas mantenedoras. Pensamos naqueles heróis da fé que temos nas Escrituras, imaginando-os como seres sobrenaturais. Mas sabemos que, assim como eles, ela é apenas uma mulher cheia de graça. Pois como filha, “aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu”, e foi aperfeiçoada. (Hb 5:8)
Extraído do FORUM CIM - por Verônica Farias
Psicóloga e Missionária na área do Cuidado Emocional
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